Notas..


Semana do Patrimônio aborda as origens e os rumos do patrimônio cultural e científico no Brasil

Começou nesta quarta feira, 17 de novembro, a V Semana do Patrimônio, que tem como tema ‘Origens e Perspectivas na Política de Preservação do Patrimônio Cultural e Científico no Brasil’.

A abertura do evento foi feita por Marcos José Pinheiro, vice-diretor de informação e patrimônio cultural da Casa de Oswaldo Cruz (COC). Marcos falou sobre a intenção de que o evento contribua para a discussão da política de preservação do patrimônio, retomando ainda as origens do mesmo, que tinha por objetivo principal sensibilizar e co-responsabilizar a comunidade Fiocruz pelo patrimônio que gera e preserva.

A primeira mesa redonda do evento, coordenada por Cristina Fachinetti, professora e pesquisadora da COC, discutiu a questão da criação da identidade nacional a partir de autores modernistas, especialmente Mario de Andrade, assim como sua contribuição para a formalização do conceito de Patrimônio Histórico.

palestrantes na mesa de abertura da semana do patrimônio
Da direita para a esquerda: Robert, Cristina, José Saia e Júlio Diniz. (foto: Roberto Jesus/COC)

Robert Wegner, pesquisador da COC, falou sobre o papel de Mario de Andrade na criação do Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Sphan). Mario realizou um anteprojeto para a criação do Sphan, mas o projeto que se consolidou foi outro, de Rodrigo Melo Franco. Robert traçou comparações entre os dois projetos, focando nas semelhanças entre eles, especialmente no surgimento da questão da preservação e do papel do passado na construção de uma identidade nacional.

Ao abordar o modernismo no Brasil, Robert apontou ainda diferenças entre as correntes existentes na Europa, o Surrealismo e o Futurismo, e sua influência no país. “No princípio os modernistas brasileiros se aproximavam mais do futurismo, que traz uma noção de elogio ao futuro e superação do passado. Depois, em 1924, ocorre um ponto de virada: surge a idéia de que o autêntico está dentro do país, e de que é a tradição que resolve a questão de ser moderno e singular ao mesmo tempo”. Robert falou ainda sobre o romance Macunaíma, onde o Mario de Andrade aponta o problema da falta de identidade nacional.

O segundo a falar foi José Saia, arquiteto do Iphan, que relatou o processo de formulação do projeto lei que criou o Isphan, assim como as alterações no anteprojeto de Mario de Andrade ocorridas neste caminho. Saia apresentou o conceito de Andrade para o patrimônio artístico, que seria a habilidade com que o engenho humano se utiliza da ciência, das coisas e dos fatos, afirmando que “nesse sentido, para Mario de Andrade a Fiocruz produz arte”. O palestrante falou sobre a preocupação de Mario e dos modernistas de “mostrar o Brasil aos brasileiros”, relatando alguns projetos neste sentido.

A questão da inadequação dos instrumentos legais de proteção do patrimônio foi outro ponto de destaque na fala de Saia. Segundo o palestrante, estes falham por pensar apenas na proteção, e não em tornar os acervos socialmente úteis à população. “Proteger é apenas uma conseqüência. O importante é tornar esses acervos visíveis à população”, disse.

Júlio Diniz, diretor do departamento de letras da PUC RJ, trouxe a questão da aproximação entre música e literatura modernistas a partir de Mario de Andrade, ou, como diz o palestrante, do complexo multi-mário. “Trabalhar com Mário é difícil porque ele é pendular, incapturável, está sempre em movimento”, diz. O palestrante focou sua fala nas facetas de ensaísta em música e missivista (escritor de cartas) de Mario. Segundo o palestrante, Andrade foi o primeiro a estudar sistematicamente música no Brasil, em sua tradição erudita.

Diniz falou ainda sobre o projeto de país de Mário para o Brasil, pensado a partir do modernismo hegemônico, o paulista. O palestrante disse ainda que Mario de Andrade levou sua sólida formação musical para a literatura, tentando quebrar a barreira entre a música e a palavra, o som e a sílaba. Em relação às cartas, Júlio contou sobre as correspondências entre Andrade e Manuel Bandeira, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade, onde discute projetos de país.

No debate que se seguiu foi abordada a questão do lugar no patrimônio no ministério da cultura e o excesso de burocracia nas ações de tombamento, assim como na falha no ciclo que não torna os acervos socialmente relevantes para a sociedade. “Esses acervos têm que funcionar para ativação da memória. Se ela não serve de lição ao presente, qual o uso da memória? O museu hoje tem que ser um local de provocação, de polêmica, fazer com que as pessoas pensem” afirmou José Saia.


Sobre a V Semana do Patrimônio
A evolução das políticas de preservação do patrimônio cultural e científico no Brasil é o foco da V Semana do Patrimônio, evento organizado pela Casa de Oswaldo Cruz, de 17 a 20 de novembro de 2010, na Tenda da Ciência, campus sede da Fiocruz em Manguinhos, Rio de Janeiro.

O tema que reunirá pesquisadores e profissionais em torno de uma variada programação é Origens e Perspectivas na Política de Preservação do Patrimônio Cultural e Científico no Brasil.

Representantes do governo e acadêmicos debatem em cinco mesas redondas passagens históricas, como o envolvimento do poeta Mário de Andrade na formulação de políticas públicas sobre o patrimônio nacional; experiências na relação entre patrimônio cultural e divulgação científica; perspectivas para uma política integrada de preservação do patrimônio cultural e científico, entre outros assuntos.

Uma atração reservada especialmente para o evento é a exibição de inéditas versões brasileiras das séries Cultos do Sertão e A Destruição do Índio, com imagens do Brasil, Bolívia e Peru captadas pelo cineasta inglês Adrian Cowell, na década de 1960. A versão brasileira resulta de uma co-produção entre o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA/UCG) e Casa de Oswaldo Cruz.

No sábado, último dia do evento, atrações diversas convidam os participantes a conhecer o patrimônio cultural da Fiocruz. Serão realizadas visitas guiadas aos edifícios históricos, ecléticos e modernistas do campus; trilhas ecológicas; esquetes teatrais no Castelo Mourisco; oficinas de fotografia e pintura, entre outras atividades.


Fonte: http://www.coc.fiocruz.br/comunicacao


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Iniciativa de Minas Gerais pelo patrimônio cultural ganha prêmio nacional 


BELO HORIZONTE [ ABN NEWS ] — O sucesso da 1ª edição da Jornada Mineira do Patrimônio Cultural foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A estreia, em 2009, do projeto desenvolvido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG) para promoção do patrimônio foi a ação vencedora da Categoria Divulgação do 23º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, uma das mais importantes premiações da área. Na próxima quarta-feira (20), o presidente do Iepha/MG, Carlos Roberto Noronha, receberá em Brasília (DF), um troféu, um certificado e um aporte de R$ 20 mil para investimento no projeto.

Realizada nas diversas regiões de Minas Gerais durante todo o mês de setembro, a Jornada ganhou grande repercussão estadual, nacional e até mesmo internacional, em função de ter recebido a chancela do Ano da França no Brasil em sua primeira edição. Naquele ano, foram mais de 1500 ações de preservação e valorização do patrimônio cultural mineiro reunidas sob um grande trabalho de articulação e divulgação realizado pelo Iepha/MG.

Jornada

Seminários, apresentação de grupos de cultura popular, festivais de arte e gastronomia, exposições, visitas guiadas, educação patrimonial, oficinas e gincanas culturais foram algumas das atrações que aconteceram nas mais diversas regiões de Minas Gerais durante todo o mês de setembro de 2009. As atividades, relacionadas à preservação e divulgação do patrimônio cultural compuseram a programação da primeira Jornada Mineira do Patrimônio Cultural, um dos maiores eventos culturais já promovidos no Estado, e que já teve sua segunda edição no último mês de setembro.

A ação, promovida pela Secretaria de Estado de Cultura e pelo Iepha/MG, é pioneira no país e um de seus destaques é a proposta do Patrimônio de Portas Abertas. A iniciativa permite que as pessoas tenham acesso, ao menos por alguns dias, a uma série de bens culturais tombados. Muitos destes bens, de propriedade particular ou uso restrito, permanecem fechados à visitação pública durante o ano inteiro e são acessíveis apenas por ocasião da Jornada.

Jornada 2010

Com mais de mil ações culturais novamente movimentando todo o mês de setembro, a 2ª Jornada Mineira do Patrimônio Cultural foi regida pelo tema Patrimônio Cultural e Cidadania. Mais uma vez, o objetivo foi sensibilizar agentes públicos, escolas, associações e população em geral para a execução simultânea de ações de preservação do patrimônio em todo o Estado.

Premiação

Sessenta e quatro concorrentes chegaram à segunda etapa de seleção do 23º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, após passarem por uma pré-seleção, realizada em julho pelas comissões estaduais presididas pelos superintendentes do Iphan em cada estado. Antes desta primeira peneira, o conjunto de inscrições apresentadas ao prêmio chegou a 174.

Esta é a segunda vez que o Iepha/MG conquista o prêmio. Em 2002, o programa de Municipalização do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, por meio do ICMS Patrimônio Cultural, também foi reconhecido. 
FONTE: http://www.abn.com.br/editorias1.php?id=64340